domingo, 15 de outubro de 2017

Sobre fumantes e grades bancas.

Pego-me pensando nas semelhanças entre os fumantes e as grades brancas. Ambos - à espreita - no canto inabitável do ambiente, cercando de dureza e devaneios, as janelas grandes. Ângulos de todas as formas e direções, quadrados, losangolo e etc etc. Primeiro, explico como cheguei em tal conclusão. Primeiro, foi o dia cinza, com nuvens que peneiravam o céu em monocromático. O rosto pesado, caricato, distante. Depois, o bolo no estômago que bateu durante o almoço, feito massa branca de pão molhado a fechar a boca, bem na altura do esterno. Precisamente, entre os ângulos da costela. Depois, o espanto - triste, rápido e certeiro - da inconstância que bate em dias sim. Tudo pra pensar sobre as pontes intransponíveis entre meus pensamentos íntimos e as pessoas cotidianas. Um paraíso habitado pela mais branca solidão. Paradisíaca praia de uma pessoa só. Invento brincadeiras para esse amigo tão fino, jogos de palavras, desenhos mentais, cenários irreais. Numa linguagem de olhares, cantos de bocas, mãos e silêncio. Sutis movimentações. Sutis afetos. Silencioso e sempre espreita. Conjuntamente, cultuamos a mesma obsessão e o grito de socorro -  inventar a poesia sem estrofe.

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