sexta-feira, 15 de julho de 2016

Desencontrando

Ando desencontrada dos homens. Meus companheiros humanos, que dividem comigo as banalidades de estar vivos - o gosto por beber, o sexo imperativo, o cheiro e gosto animalesco - não me tocam, não me projeto até eles. A linguagem, premissa da existência, não ocorre na profundidade orgânica que almejo. Sou um eterno caixeiro viajante, vagando por minha mente sempre a procura de eu-não-sei-o-que que perco antes do café da manhã. Digiro, pedaço por pedaço, feito assassino diante do corpo, as sensações. Uma espécie de aflição perpétua de estar no mundo como coelho da Alice, que horas são, não tenho tempo, vamos nos ver etc. Passo. Corro. Corremos. Nessas capitais, carros, compromissos, prédios de cimento armado que me atemorizam. Penso em desistir no primeiro sinal. Não, a vida não é tão ruim. Sonho em algumas noites. Tenho sonhos horríveis em dias ímpares. Amo número ímpares com a crueldade com que eles me batem. 7 e 13, sempre penso nesses. O que isso diz sobre mim? Personagem de Bergan, Sou Persona na eterna incomunicabilidade de quem se nega a falar por representar. E no meio da minha total incapacidade, desejo: desejo o beijo calmo, a mão que acarinha, o dormir sobre o peito que me compreende. Desejo.