domingo, 26 de março de 2017

sutilezas e necessidades.

A sensibilidade é o primeiro tempo. O início da linguagem e do contato. O aceno de mão para o conhecer, para o sentir. A sensibilidade tem um tempo só seu, entrecortado por enormes espaços de silêncio. O olho no olho, sempre amedrontador. A esquiva desconfortável, mal notada. As impressões falhas. Os golpes com facas de gelo. Tudo leve impressões sensíveis tão bem ornamentadas no plano das ideias. Enorme alegorias emocionais. A viagem percorrida pelo tempo do silêncio. As pessoas poderiam ser, todas elas, em primeiro plano, sensíveis. Postas a notar cada variável tom, as dores e os amores das variáveis vida. Se despir, todas. do viés ameaçador dos diferentes homens e vozes, da armadura a botar brutalidade na fragilidade do ser. Se despedir dos homens e de suas armas, a queimar a pele sob a ameaça do sensível.
O tempo é o segundo tempo. O tempo de reconhecer os tropeços. As vacilações. De buscar as respostas para cada mudança do ângulo de sentir, procurar embaixo das pedras respostas subjetivas. De esperar, sentar a calçada e saber que de cada cem pedras, uma sempre há de cair. De cultivar mudas e rega-las com roupas de astronauta. Se apegar as crianças, eternas aliadas das figuras bonitas. É de ter fé, cega, no interior. Desligar os relógios, mudar as rotas, ignorar a contramão. A espera da palavra sair, da lágrima brotar, do peito explodir. São as nuances que fixam.
Não enlouquecer é o terceiro tempo. Não em uma fé cega à norma, mas ao apego por não cair no bueiro. Para que a melancolia não vista a pele branca, gelada e imóvel. Para que a solidão, sempre a espreita, não nos capture na esquina. Ou, pior, para que a roupa tecnocrata não insista em ser vestida. E tudo se transforme num cumprir tarefas do dia. Que a inabilidade de comunicação não nos exclua da lista de convidados para a vida. Nem a tristeza predomine em nossos poros. Que a violência dos homens, a brutalidade da vida, o imperativo da fome não quebre nossos ossos de vidro.
ou
para que quando quebrados
não deixemos de caminhar com as fraturas
sabendo que a cada mil lágrimas nasce um milagre.
pequenininha e sensível, mas melhor que as outras opções.