terça-feira, 16 de maio de 2017

me segura qu'eu vou dar um troço.

há sempre um pedaço de estória, um "que" que engasga e não conseguimos soltar, uma quina com a qual constantemente o dedo mindinho se bate e por se tatear no escuro nunca sabemos onde está. uma estória, que ainda não tem começo ou fim mas que existe em sua busca. a busca indecifrável pela qual as pestanas dos olhos queimam-se entre as linhas de poemas que não te promete a saída mas oferece um alento. a decifração do enigma: - que faço entre as coisas? - de que me defendo? uma eterna balança, isso aqui é dor, isso aqui felicidade, vamos ver para que lado pende hoje. enquanto o café desce, e permaneço atônico na busca ansiosa do lado pro qual seguir, paralisado com a constatação que não há nada - talvez nem o sentir. pensamentos sem ordem exata, sem sentido pregresso, progresso, ordinário. desprendimento do passado que não chega, expectativa do futuro que não move, braços cruzados a espera de um ônibus sem ponto final. pote em que se mistura sutileza, necessidades, afeto e o coito escondido, moralmente condenado, queimado em praça pública. corpo em chamas sob o véu da serenidade. carência na aflição, na solidão. meu sofrimento não é cheque caução, o desejo de amor não é de fato, o amor. mística popular inexistente, palavra bonita de versos mitológicos. por trás da busca de afetos há o aluguel, o portão fechado, a burocracia dos abraços, a não-correspondências sem motivos, a necessidade do trampo. o tempo-não-tempo das cidades que engolem o homem feito máquina de carne. cinza que enfraquece os sentidos. barulho que enlouquece a mente. o prazo feito camisa de força. meu sofrimento não é cheque caução. a realidade dura. separação dos meus restos em praça pública. fratura exposta na perna direita.  gana da raça pra suportar a próxima tortura. o pique pra resistir na busca do motivo.  rebeldia sistematizada em dúvidas. macabeia e mais um sonho de estrela. me segura qu'eu vou dar um troço, hoje caio mas não morro.