quinta-feira, 22 de junho de 2017

Divagações sobre o eu.

Como delinear o limite? Onde, no meio a todas nossas relações, encontrar os pontos milimétricos que se ligam, ponto-à ponto, com perfeição ancestral, para formar a fronteira do ideal? Isso aqui é dor, isso felicidade, essa é a dose perfeita de afeto, aqui vamos limitar o envolvimento e etc etc. De que modo impedir que, uma vez aberta as fronteiras das relações, os sentimentos não saiam como uma manada descontrolada, atropelando qualquer tentativa de compreensão e reflexão do processo? E são eles tão variáveis em seus tipos, das alegrias infantis a quem agradecemos a companhia, à mesquinhez do julgamento sobre limite, o espaço privado tido como essencial, ao suspiro final junto ao mar. E, em meio a todos os sentimentos que batem a cara feito bofetada que nem entendemos o porquê de recebermos, há, em nós, um carrasco sempre a espreita e que tudo julga. Que te observa nua, pelo-à-pelo, todos os dias. E julga. E tortura, numa briga final entre vocêXvocêXrepresentaçãodevocêXquemévocê. É uma polifonia limitada pela carne e osso, com o desejo que o ponto de ebulição não chegue aos alter egos de Fernando Pessoa. Desejo de não enlouquecer sob o signo da dor. Que as contradições não atingem o ponto de choque total e reste depois dele o que? O seu eu em pedaços em praça pública, consumido pela culpa ou algo mais? O seu eu esquartejado em 5 partes, impossíveis de serem reajuntadas? Ah, o eu... quantas divagações sobre o que eu nem sei o que é, e talvez, uma resposta aberta, sem conclusão final. Escrever enquanto válvula de escape. Transvestir em palavras  a busca incompleta, como  a esperança de uma resposta metafísica. Fórmulas fáceis para assuntos complexos, a serem deixadas no correio em uma segunda-feira de manhã. Manual de instruções simplificado e em poucas etapas para relações humanas.