quinta-feira, 23 de novembro de 2017

Auto-explicação, aos demais, desculpas.

Não sou muito dada aos alardes, as vozes altas, telefonemas bruscos, carros de som no meio da Avenida. Tenho aprendido com o silêncio das águas, a linguagem com que me comunico com meus semelhantes. De tanto conversar com árvores aprendi a balançar sem alardes, a cair com graça, a armazenar com sabedoria o tanto visto e nunca dito. As  montanhas têm me ensinado a meditar com calma, a limpar o coração por mais árdua que a tarefa seja, contemplar o bonito e agradecer, agradecer sempre o que em meio a tanta brutalidade dos homens me traz um fio de esperança no que desejo. Os pássaros, esses seres tão leves e graciosos, me trazem aos olhos um milhão de cores com que posso colorir em aquarela o meu caminho, o canto tão preciso e delicado que me presenteia os ouvidos, pela manhã, ensina uma sinfonia harmônica que dança com a minha boca imóvel.
Sou um caixeiro de silêncios, um amante das sutilezas. Por favor, aceite minhas delicadezas como um tesouro a ser descoberto. Aprendo na mudez que não é renuncia de comunicação, a desenhar com dedos mapas astronímicos em outros corpos, a acompanhar os caminhos das veias e dos rios, os desenhos que os cílios fazem no ar e as vontades presas em tantas íris cor de mel.
Sou um ser de despropósitos -- não quero chegar a lugar algum assim, tão bem desenhado. Mais me vale o lado dos que perderam, dos que ficaram para trás, dos que não almejam tão grandes destinos. Mais me vale as conversas profundas, os amores sinceros, os afetos dos que tem muito tempo e pouco medo.
Sou um buraco de profundidades, é preciso não ter medo para caminhar com nenhuma certeza. Em cada canto, vejo mil e um ângulos que merecem igualmente minha atenção. Destrincho-os, me perco e os perco, num desejo de liberdade com que vejo e deixo o que tiver que ir, passar. Na solidão das igrejas, aprendi que nem Deus ou Estado é capaz de me garantir alguma companhia permanente.
Abrigo de desapegos, quero ter a sorte de um dia viver a simplicidade dos monges, as paixões terrenas, a sabedoria mineral. Quero me somar no canteiro de mudas de uma nova geração - dos sentimentos que vibram, de amarras que libertam, dos cuidados em comunhão.

-- eu penso que o mundo pode ser mais bonito e só de olhar, sei que alguns de vocês também --

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